Bali: desafio para mim mesmo

Quando decidimos não ir mais a Israel, ficamos com um problema agradável a resolver – aonde ir...

A passagem que nós compramos (Star Alliance Round the World) é calculada pelo total de milhas e tem regras. Não pode exceder 39 mil milhas, não pode exceder 16 voos, pode fazer alguns trechos por terra e não pode inverter a direção – exemplo, atravessou o Pacífico de leste a oeste, não pode voltar de oeste a leste.

Tirar Israel reduziria a nossa viagem em cerca de 1500 milhas. Apenas tirar daria essa alegria à Star Alliance, então resolvemos colocar outro lugar.

Os lugares que nos interessavam mais no contexto, no momento em que a decisão precisou ser tomada (cerca de 10 dias atrás) ultrapassariam as regras do bilhete. Exemplo – JÁ QUE estamos tão perto da Austrália, ir a um Consulado tentar tirar um visto em trânsito, mas ai entra novamente o NO CONTEXTO DO MOMENTO DA DECISÃO. Achar o consulado no meio da viagem, esperar... Não é o mesmo tempo e pique de quem está em casa planejando. E a Austrália estoura qualquer roteiro.
Índia – visto muito complexo e estouraria. Vários locais no Oriente Médio e cercanias, não dá no contexto atual. Seoul, agora ficou longe. Europa, passagens lá dentro são muito baratas para gastarmos as milhas desse bilhete incrível que compramos. África, todos os trechos estouram a milhagem. África do Sul é longe demais, a central está com Ebola e o Egito precisa de visto (e é chato para tirar).

Olhando o mapa de rotas da Star Alliance, Bali surgiu como opção perfeita. Ao invés de Bangkok – Singapura, trocamos por Bangkok – Denpasar (Bali) – Singapura. Aumentou um voo e 1200 milhas, mais ou menos o que tiramos com Israel.

Visitar Bali é um desafio a alguns preconceitos. O maior deles é o fato de ser um destino de praia, e eu nunca fui de me locomover muito para ver praia. Não é que eu não goste de praia, eu adoro, mas praia para mim é como vinho – eu não preciso comprar um Bordeaux de 1000 reais, meu paladar fica feliz com esses Malbec e Sauvignon Blanc na faixa de R$ 30. Admiro quem aprecia os rótulos caros, mas não cheguei a esse nível de refinamento. E é assim também com praia.

Bali é lugar de aglomerações de turistas duros, mochilando em albergues vagabundos, fedendo cerveja e maconha e ouvindo reggae.

Eu tenho pavor a reggae por um motivo meio bizarro. Em 1991 ou 92, fiz uma viagem de uns 20 dias por Santa Catarina com o meu irmão. As duas antas só levaram UMA fita cassete, que foi o Legend, do Bob Marley, e como foi a viagem de grana mais curta da minha vida, foram 20 dias, uns 4 mil km ouvindo IS THIS LOOOOOOOOOOVVVEEEE,,,,, STIRRR IT UPPPPPP,,,,, STAND UP FOR YOUR RIGHTSSSS..... Só de ouvir o TCHUNK – TCHUNK que marca TODA a discografia do reggae mundial, me arrepio.
(em tempo – Marley compôs músicas boas e que ficam muito melhores com outros artistas, assim como ocorre com Bob Dylan, de quem sou fã. A versão de Clapton para I Shot the Sheriff, a de Joe Strummer para Redemption Song – que também foi gravada por Bono e ficou legalzinha, Paul McCartney tocou One Love e, dele, até o hino do Corinthians fica bom).

Até agora, só preconceitos, mas ai entra a frase incrível (o hino) de Amyr Klynk sobre viajar:

Trecho: “ (...) Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Dei uma rápida lida sobre Bali, validei com a patroa, decidimos e aqui estamos, 7 da manhã, na varanda do hotel Kajane, em Ubud.

A leitura preparatória e animadora disse que: 
  1. Bali NÃO É UM DESTINO BOM DE PRAIA. Areia preta, praia sem graça, tanto que muita gente se decepciona. Aliás, muita gente se decepciona por achar que Bali é o paraíso, mas é uma ilha com 2 milhões de habitantes e outra penca de visitantes.
  2. O bacana é a cultura + natureza, diversidade e o povo fantástico que tem aqui.
  3. O clichê a que me referi é na praia de Kuta, que seria a Praia Grande da Indonésia. Vários blogueiros dizendo, “quer se irritar, vá para Kuta”.
  4. Ricardo Freire, meu blog brasileiro favorito de viagens, recomenda muito Bali e particularmente Ubud, que é para onde viemos.
  5. Bali tem um trânsito caótico, com engarrafamentos de horas. Vamos é ficar aqui na região mesmo, que parece linda.
  6. Bali era um lugar de dormir em hotel de luxo por 20 dólares. Depois do lançamento de Comer Rezar Amar, livro e depois filme em que Julia Roberts vem para cá e se enlaça com o então BRASILEIRO Javier Bardem, os preços inflaram. Continua barato, mas perdeu a graça. Bali virou um reduto de mulheres de 30 a 40 anos que não se resolveram e vem para cá procurar... Algo espiritual, mas pela amostra que vimos ontem andando pelos bares, elas querem o carnal também.
  7. Bali é um enclave hindu em um país 87% muçulmano. A Indonésia é algo que merece ser visto! 250 milhões de habitantes no maior arquipélago do mundo, que vai da Àsia à Oceania.

Bali também é um descanso natureba depois de passar por algumas das cidades mais agitadas do mundo.

Enfim, resolvemos deixar de ser doutores do que não vimos e nos tornar alunos. Viemos ver.

Julia  Roberts em Bali no filme que mudou a cidade - pelo menos nos preços


Diversidade de etnias na Indonésia


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abcs