Dubai - mimados do petróleo, mas com cabeça


A história da humanidade dificilmente encontrará uma definição melhor de NOVO RICO do que o Emirado de Dubai, mas ao contrário do sentido pejorativo da expressão, aqui há um, digamos, NOVO RICO COM CABEÇA, a família e dinastia Maktoum.



Resumindo alguns séculos em poucas linhas, Dubai era uma cidade qualquer da Península Arábica atá 1966, quando descobriu petróleo e virou isso aqui. A sorte do país foi estar nas mãos de gente competente - ou ao menos preocupada em construir um legado.


Comércio em Dubai antes e depois do petróleo!
Mais fotos como essa.


Em tempo, a história de Dubai tem traços comuns com a do Brasil e de tantos países. Os portugueses chegaram aqui no século XVI, mas sua política exploradora de não negociar e nem tolerar rivais fez com que a "dominação" não durasse muito (sim, tem povo menos preguiçoso que botou os portugueses para correr).

Depois vieram franceses, holandeses e também foram chutados, e ai a Inglaterra veio com seu charme (e poder) e estabeleceu um bom acordo, que durou quase 200 anos. O foco inglês era, como sempre, o comércio marítimo local e defender a sua base na Índia. Em 1892, Inglaterra e os Sheikhs dos Emirados fizeram um tratado de proteção em troca de exclusividade comercial.

Em 1894, o Sheihk Maktoum bin Hasher tomou a genial decisão de tornar o porto de Dubai duty free. A cidade começou a crescer e investir em sua infraestrutura. Quando o petróleo foi descoberto em 1966, o país tinha condições de exploração.

A descoberta do petróleo foi uma mudança total na região. Estima-se que de 1968 a 1975, a população de Dubai cresceu mais de 300%. Em dezembro de 1971, Dubai, Abu Dhabi e mais 5 emirados se juntaram para formar o país - Emirados Árabes Unidos, que tem a 7a maior reserva de petróleo do mundo (as 6 primeiras são Árabia Saudita, Irã, Iraque, Canadá, Kwait e nossa querida Venezuela).



Dubai é o mais famoso, mas quem manda é Abu Dhabi, que tem 87% do território e quase todo o petróleo do país. A regra aqui é bem clara: Dubai é controlada pela família Maktoum e Abu Dhabi pelos Zayed. Os outros 5 Emirados (Sharjah, Ajman, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fujairah) gozam de autonomia para uma série de assuntos, mas nacionalmente, quem manda são os dois famosos. Importante explicar que aqui não tem governo, nem eleições, nem propriamente uma democracia, cada Emirado tem um "dono". O país é uma confederação de monarquias.



Tendo Dubai uma reserva limitada de petróleo, talvez a atitude mais sábia dos Maktoum tenha sido justamente projetar o futuro. Os donos do Emirado usaram boa parte dos petrodólares para construir uma estrutura de geração de negócios que transformasse a receita do petróleo em algo irrelevante. O foco foi turismo, indústria e comércio.

A estrutura turística é impressionante. O aeroporto, hotéis, shoppings, a companhia aérea local (Emirates) são colossais e, incrível, estão crescendo. Na indústria e comércio, Dubai construiu uma série de ilhas de isenção fiscal (trade zones) que atraiu enormes empresas. Na nossa rota da Marina para o centro e aeroporto, passamos pela Internet City, Technology City, Knowledge City e outras. Fizemos um bate-volta a Abu Dhabi e vimos centenas de indústrias operando e outras incontáveis em construção.

O resultado: hoje, 82% da receita NÃO PETRÓLEO dos Emirados Árabes vem de Dubai e 95% do PIB de Dubai é NÃO PETRÓLEO, o que faz de Dubai uma economia normal - e como tal, o Emirado quebrou na crise financeira de 2008, mas foi salvo pelo irmão mais cheio de petróleo, Abu Dhabi. Não é por outro motivo que o prédio mais alto de Dubai e do mundo, inaugurado em 2010, tem o nome do chefão de Abu Dhabi, Burj Khalifa.


A população local é composta por uma elite chamada de Emirati; são os nascidos aqui e reconhecidos pelos donos como cidadãos do Emirado. Mas, a grande maioria é de imigrantes aqui da região: Índia e Paquistão, majoritariamente, e há uma crítica gigantesca ao modo como alguns imigrantes são tratados. Uma espécie de escravidão, com passaportes retidos e trabalho quase forçado debaixo de um calor desumano. E de fato, estou escrevendo essas linhas às 15h50 do dia 7 de setembro de 2014 e vendo, da janela do hotel, algumas construções cheias de operários. O relógio do hotel diz que a sensação atual é de 47 graus.  Leia esse artigo e veja esse documentário da BBC sobre o assunto.

Se você, como eu, achava que era o Vaticano da futilidade neo-rica do planeta, sim, Dubai tem muito disso, mas tem coisas que merecem passar pela frase do Amyr Klink, "pare de julgar o que você não viu, vai lá e veja, aprenda'. Alguns destaques:



- ver como um país se preparou para deixar um legado com o a grana do petróleo e, ao mesmo tempo, ver o progresso quase ao vivo. É fundamental visitar o Museu de Dubai, ali tem fotos de Dubai década a década até os dias atuais (em 1960 era o próprio Piauí).

- ver arquitetura da melhor qualidade, extravagância, opulência e ostentação. O mais legal, porém, são os fenômenos da engenharia. As ilhas artificiais me impressionaram muito.

- ter contato com a cultura local e entender que as roupas árabes não necessariamente representam que todas as mulheres são escravas submissas e que os homens são milionários ou maus. A mulher aqui é muito bem tratada.

- fazer um tour pelo deserto, um dos passeios mais legais que fiz na minha vida.

- ver finalmente uma praia decente, pois as melhores praias do mundo não chegam aos pés de nenhuma praia brasileira! Aqui em Dubai vi uma praia linda, limpa e com água QUENTE.

Dubai vale a visita como um stop and go, ou seja, se estiver indo à Ásia ou algum lugar que Dubai sirva como conexão, passe 3 ou 4 dias aqui. Pessoalmente, não acho que compensa como destino para sair do Brasil, vir aqui e voltar. Evite ao máximo vir nessa época que viemos (junho a setembro). Não importa de qual parte do Brasil você seja, aqui será o maior calor da sua vida. Viemos pois, como disse, "passamos na porta" e resolvemos dar uma parada. E valeu a pena.


0 Responses

Postar um comentário

abcs